Joquim

Avião de Joaquim Fonseca é tema de exposição no Museu Carlos Ritter

José Eduardo Dornelles construiu uma réplica do modelo da invenção do pelotense imortalizado pela música Joquim, de Vitor Ramil

Foto: Jô Folha - DP - Dornelles aliou anatomia das aves com a dos aviões em sua obra

Por Heitor Araujo

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O biólogo José Eduardo Figueiredo Dornelles visitou o músico Vitor Ramil para auxiliá-lo sobre uma ossada de baleia. Aproveitou e levou o LP de Tango, terceiro disco autoral do artista, “para pedir um autógrafo”, o que os levou a conversar sobre a música Joquim e a história de Joaquim da Costa Fonseca Filho, pelotense que construía aviões no fim da década de 1930 e década de 1940. “Eu disse ao Vitor que, se tivesse a planta do avião [citado na música], eu construiria o modelo [em réplica]”, conta o biólogo.

Uma semana depois, Dornelles retornou à casa de Vitor Ramil, que estava reunido com amigos em comum, dentre eles Fernando Fonseca - piloto de avião e neto do Joaquim Fonseca - que estava com a planta original do avião. Em posse do material, a réplica do avião foi construída com um material chamado “papel pluma”, que é o foam board (folha de isopor mais resistente). O projeto evoluiu gradualmente ao acervo de aves e à biomimética, o que resultou no trabalho de Dornelles que está exposto no Museu Carlos Ritter desde o fim do mês passado.

Esta exposição recapitula parte da vida de Joaquim Fonseca expõe modelos de aviões e explica como a observação de aves serviu à evolução da engenharia aeronáutica, um exemplo claro do que é a biomimética (observação de fenômenos da natureza para aplicá-los em diferentes áreas de atuação).

As peças estão disponíveis para visitação na sala frontal do Museu Carlos Ritter, localizado na esquina da praça Coronel Pedro Osório com a Félix da Cunha. Em relação a Joaquim Fonseca expõe-se o começo da paixão do construtor pela aviação. “O que eu acho mais importante é o pioneirismo, a visão de Joaquim Fonseca em querer construir na década de 1940 uma fábrica de aviões. No contexto da época, era uma tendência que se tinha no Brasil”, analisa Dornelles.

Conta a história que, devido a interesses escusos, Fonseca não conseguiu a liberação do governo federal para ter a fábrica em Pelotas, trecho que é narrado poeticamente na música de Ramil. A exposição de Dornelles destaca-se por envolver diferentes áreas, como a biologia (das aves), a engenharia (dos aviões) e a história local (de invenção e de música). Reúne, de certa forma, os interesses do biólogo, que tem doutorado em paleontologia e biomecânica, e é professor da Universidade Federal de Pelotas.

Os estudos da anatomia das aves, segundo Dornelles, datam do Renascimento (entre os séculos 14 e 17), com Leonardo Da Vinci. “Então, essa parte de engenharia aeronáutica começou a se desenvolver muito a partir do fim do século 19 e começo do século 10, com Santos Dumont e Irmãos Wright, e aí não parou mais.”

Muitos desses avanços da aeronáutica foram possíveis graças à observação das aves e o funcionamento das asas. Um exemplo citado por Dornelles é o bico saltado na ponta das asas dos aviões comerciais, chamado de winglets. “Elas diminuem os torvelinhos que promovem uma série de fatores negativos no avião. Essas winglets foram inspiradas nas penas que as aves têm na ponta da asa, principalmente as grandes planadoras que diminui a turbulência, o atrito”, detalha o biólogo.

Posteriormente, a aeronáutica daria novo salto com a utilização de materiais compostos mais leves e resistentes, que permitiu maior velocidade e altitude, e exigiu o desenvolvimento de computadores de bordo para sustentação e controle. Modelos atuais e antigos de aviões de guerra estão expostos no Carlos Ritter. Alguns deles foram diretamente influenciados pela anatomia das aves, enquanto outros, de origem norte-americana, carregam os animais nos nomes.

Mais da história de Joaquim Fonseca pode ser lido na internet, destacando-se um texto do escritor Lourenço Cazarré que relata a obsessão do pelotense em trazer a fábrica de aviões à região. Joquim, adaptação de Vitor Ramil à música Joey, de Bob Dylan, conta parte dessa trajetória, em uma fusão com a vida de Graciliano Ramos, escritor e político perseguido pelo Estado Novo. ​


Serviço
Exposição: Imitando as aves: a poesia do voo
Entrada: gratuita
Horário: de segunda a sábado, das 13h30min às 18h30min
Local: Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter, na Praça Coronel Pedro Osório, número 1.

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